Era frágil e se quebrou

Fui avisada tantas vezes para ter cuidado, que criei um medo enorme daquela bailarina, apesar de admirá-la imensamente à distância. Havia sempre o claro risco de quebrá-la.
Percebi desde então que as pessoas são tão frágeis quanto aquela bailarina, a diferença é que elas não aparentam precisar de tanto cuidado. Tal como qualquer bibelô, as chances de quebra de qualquer pessoa aumentam grande porcentagem a medida que se aumenta a proximidade. A intimidade é como sabonete em bailarinas de cristal.
As relações, descobri há pouco tempo, são ainda mais propensas à danos, e se encaixam perfeitamente naquela história de "é só olhar que quebra". Relações exigem dedicação e fidelidade e com certeza a mentira é um dos maiores agetes quebradores de que se tem conhecimento. A verdade é que por mais que nos esforcemos para reparar as rachaduras, elas estão sempre lá, e são memória instantânea das causas de sua existência.
Quando completei cerca de 13 anos eu já tinha coragem suficiente para me aproximar da bailarina de cristal, e até tocá-la de vez em quando. Em uma dessas vezes, em um descuido bobo, deixei que ela escapasse de uma de minhas mãos e assisti tristemente uma de suas pernas ser quebrada em três pedaços. Colei cada um deles com todo o cuidado que deveria ter tido anteriormente. A bailarina de cristal ainda existe. Está na mesa de canto, atrás de um vaso de flores. E suas rachaduras a acompanham. São fotografia do dia em que a quebrei.
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