O diário de Jonathan Harker
Drácula
(…)Chegando à porta, voltou-se mais uma vez e,
após um instante de reflexão, falou: – Chegou a hora
E, assim, deixando o resto de sua frase no ar, sublinhou-a com
um tom de displicente ferocidade, enquanto fazia o expressivo gesto de quem
lava as mãos. Está claro que eu compreendi!
Minha
única dúvida consistia apenas em saber se algum pesadelo podia tornar-se ainda
mais terrível que a sinistra e antinatural cadeia de sombras e mistérios que
ameaçava fechar-se em torno de mim. (...)
Quando ele saiu, fui para o meu quarto. Passados alguns
instantes, não ouvindo nenhum ruído, tornei a sair e galguei a escada de pedra,
do alto da qual me era possível colher uma ampla vista em direção ao sul. Ali
havia ao menos uma razoável sensação de liberdade que convergia da vastidão do
espaço, mesmo com sua amplidão permanecendo inacessível para mim, quando
comparada com a acanhada estreiteza do pátio, mais abaixo. Contemplando o
conjunto desse quadro mais ainda me convenci de que estava irremediavelmente
preso e senti premente necessidade de sorver um pouco de ar fresco, embora
agora a noite já atingisse sua plenitude. E , curiosamente, comecei também a
sentir a indefinível influência da noite abater-se sobre mim. Tal sensação
arrasa com meus nervos. Estremeço à vista de minha própria sombra, e
estou crivado de todos os tipos das mais horríveis imaginações. (...)
Estava recostado a uma janela quando notei que alguma coisa se
movia no andar imediatamente abaixo do meu e ligeiramente à minha esquerda,
onde pela ordem dos quartos, deviam coincidir as janelas externas do
dormitório do próprio Conde. A janela junto à qual eu estava era alta e funda,
tinha um peitoril de pedra e, embora muito castigada pelas intempéries,
achava-se ainda em estado razoável. Era todavia evidente que o respectivo
caixilho já de há muito deixara de existir. Retrai-me para trás do parapeito e
olhei cautelosamente para baixo.
Estou
em pânico- em pânico mortal- e não há uma saída para mim. Estou imobilizado por
uma rede de terror sobre a qual o meu cérebro se nega a raciocinar.
(...)
Stoker, Bram. Drácula. 2. ed.Porto Alegre:L&PM,1985, p.45-46
Comentários